Quando a gente se sente uma mangaká cretina...

Ontem, eu e a Shirubana trabalhamos dez horas nos nossos mangás. Quando foi duas da manhã a gente se sentiu super feliz de ter artefinalizado sete páginas cada uma! Com muito cenário. Só paramos para tomar café com o Naldo e a Tety e depois para jantar às nove. Passamos a semana artefinalizando muitas páginas por dia. Mesmo quando saímos para postar os mangás no correio, a gente volta e pega alguma página pra fazer. Paramos até o estudo de nihongo pra podermos nos dedicar a artefinal. Bom, como ninguém é de ferro, a gente pegou um mangá pra ler antes de dormir. Chama-se Sakura Gari, o único yaoi da Yuu Watase, mesma autora de Fushigi Yuugi. É lindo esse mangá, muito bem feito mesmo. Quando a gente foi fazer aula com a Montserrat do Studio Seasons eu lembro que ela disse que meu traço "lembrava" da Yuu... Sempre fui fã do traço dela e tentava fazer igual. Claro que com o tempo a gente vai achando o próprio traço, mas eu fiquei muito feliz com esse comentário da sensei. hehehe Pura vaidade de iniciante.^^

Toda noite a gente lê um capítulo de Sakura Gari e hoje a gente leu a tradução dos comentários da Yuu. Aí a gente se sentiu cretinas! rsrs Ela contou como nasceu o mangá e disse que fez 250 páginas de Name desse mangá em apenas 5 dias... Em um ano ela fez 600 páginas e depois redesenhou tudo para a revista Rinka. Somando cerca de 1200 páginas contando desde o começo da história. Ela ainda queria fazer tudo sozinha mas não deu, no fim de 60 páginas caprichadas ela resolveu contratar assistentes, pois estava morta.^^ Não é atoa que essa mangaká ganhou o mundo, né gente? Desenhou tudo isso no meio de sua série famosa, mas sem perspectiva de publicar. Lançou independente porque não conseguia editora para esse yaoi. Mas surgiu uma revista nova chamada Rinka e ela levou o mangá e conseguiu publicar.  

Tezuka desenhava 32 páginas durante a noite para entregar no dia seguinte. Mas não era Name, eram as páginas prontas! 

A Shirubana conseguiu fazer as 16 páginas do especial de Vitral em um dia. E eu fiz 13 páginas de Garoto X   de uma vez só. Mas foi apenas um surto! Fui dormir com muita dor no braço. No volume 4 a gente conseguiu fazer 20 páginas de Name por dia. Mas pra gente chegar a fazer 250 páginas em 5 dias, vamos precisar comer muito sushi! Eu tenho uma inveja boa da Yuu Watase, vou me esforçar mais pra chegar um pouco mais perto da capacidade dela. Eu a minha irmã fazemos tudo sozinhas, não por opção, mas porque não dá pra ter assistentes. No final de 60 páginas a gente se sente um shinigami, totalmente exaustas! Mas tem mais trabalho ainda com a diagramação, etc...Depois a gente volta a desenhar o volume seguinte. 

Bom, depois que terminar de ler os scans  vou comprar os 3 volumes originais de Sakura Gari pra nossa coleção de yaois. Pode ser que nunca seja lançado aqui e apesar de ter terminado em 2010 eu a Shirubana nunca paramos pra ler. A gente tava lendo outros mangás. 

Uma coisa que sempre observei em muitos mangás japoneses foi confirmado com o comentário da Yuu Watase. Os mangás geralmente têm o primeiro capítulo muito caprichado, é notável a queda de qualidade nos segundos capítulos. Não é uma coisa que destrói a arte, mas diminui retículas, os personagens ficam em poses menos complexas e os cenários ficam mais raros. Em Sakura Gari o primeiro capítulo é muito bem feito mostrando toda a capacidade artística da autora. O prazo de entrega que os japoneses se impõem os obriga a ter assistentes e a simplificar o mangá. O que é uma pena! Porém, ninguém muda isso porque todo desenhista lá precisa entregar no prazo senão não ganha dinheiro. Em Bakumam também dá pra notar que o primeiro capítulo é mais bem feito que o segundo. A princípio pensamos que fosse uma regra do mangá, que seria um dos artifícios para prender o leitor lidando com a curva de interesse. Como num primeiro capítulo não se coloca muita informação, pois os personagens e cenários estão sendo apresentados aos poucos, achamos que o capricho na arte era um dos segredos pra prender o leitor, mas não é não, a ideia é prender o editor, que é o primeiro leitor da obra. rsrs Mas acho que se os mangakás tivessem mais tempo para desenhar suas obras, teríamos mangás magníficos em termos de arte. Parece um complô mundial que obras sejam feitas a toque de caixa. Os mangás se tornam um produto de fábrica que é descartável no fim das contas. Todo mundo ficou viciado nessa rapidez e o artista se transforma numa espécie de escravo. Então, a rapidez torna-se um item essencial para o mangaká. Além de talento, rapidez! 

Já aqui no Brasil, a coisa é diferente, a gente não tem prazos fixos de entrega, mas nem por isso temos tempo de caprichar. Afinal temos muitas coisas pra fazer além de desenhar. Não temos assistentes, nem dinheiro pra receber por página, o que desmotiva bastante.

O Futago espera atingir mais rapidez, mas por pura paixão e vaidade, já que não ganhamos pra isso. E mesmo sendo rápidas a gente não sabe se a editora vai ser também. E não vai ser. Afinal, ter terminado o volume 2 em 2010 não garantiu a rapidez do lançamento. XD 

Mas eu vou dormir com a minha inveja boa. Oyasuminasai!^^